quarta-feira, 15 de abril de 2015

Pe. Fábio de Melo: laicismo, erros históricos e defesa da União Civil entre pessoas do mesmo sexo.

Depois de toda a confusão envolvendo o  Pe Fábio de melo e a defesa que este fez da separação entre Igreja e o Estado inclusive nas criações das leis de uma nação, ele defendeu-de em seu Twitter, usando entre tantos Tweets o seguinte:
"Estabelecer a distinção entre Estado/Igreja é para alguns heresia. Deturpar o que você escreveu, e lhe condenar ao inferno, não. Ah gente!"
Vale ressaltar que em nenhum caso a suspeita temerária é sadia, e que infelizmente instaurou-se entre os "apologistas" do ambiente virtual, julgar todo mundo e a todos, sem levar em consideração o coração das pessoas. Ora em primeiro lugar o que o Pe defende é de fato escandaloso e merece sim uma punição ou ao menos uma boa chamada de atenção, mas creio não chegar a ser uma heresia propriamente dita, apesar de ser terrível. Em segundo lugar existe uma coisa chamada pertinácia, que é a persistência culpável da pessoa em permanecer no erro, e não me parece ou não aparenta ser o caso dele.

Por outro lado cabe lembrar ao padre que existe uma diferença enorme entre pecado mortal e pecado de heresia. Ora, como é possível ele deduzir heresia de um pecado contra o Oitavo mandamento? O ato de julgar alguém sem justo motivo ou equivocadamente se encaixa no oitavo mandamento, mas está longe de ser heresia ou algo do tipo.
Dito isso vamos ao motivo do post, ou seja, a refutação ao que disse o Padre...

O Padre fala a respeito de uma distinção entre Igreja e estado, o que de per si não é errado a julgar pela atual disciplina da Igreja que vem desde Pio XII, sobre as relações de Igreja e estado. Por exemplo Pio XII fala de uma "legítima e sadia laicidade do estado" (1). O problema não reside no fato dele ter feito uma distinção entre Igreja e estado, o problema está no como ele fez isso e na proporção que ele fez isso.
Da mesma forma que Pio XII defendia uma justa laicidade do estado, ele condenava de maneira enérgica o laicismo. O que o Pe Fabio faz nada mais é que levar esta separação da Igreja e do estado ao extremo. Não é pq a Igreja não deve reger tudo o que acontece em um país, que as leis desta nação podem ir contra a lei moral objetiva ou contra a natureza da criação. Isso que o Padre fez pende para o Laicismo, este por sua vez condenado pela Igreja. Nesse sentido o Padre erra por senso de proporção, pois vai além da sadia laicidade e pende para o Laicismo, ideologia assassina que matou vários cristãos, entre eles os mártires Cristeros no México.
Assim se expressou por exemplo a Igreja em uma Nota Doutrinal sobre questões relativas à participação e comportamento dos católicos na vida política, de 24/11/2002:
"Nas sociedades democráticas todas as propostas são discutidas e avaliadas livremente. Aquele que, em nome do respeito da consciência individual, visse no dever moral dos cristãos de ser coerentes com a própria consciência um sinal para desqualificá-los politicamente, negando a sua legitimidade de agir em política de acordo com as próprias convicções relativas ao bem comum, cairia numa espécie de intolerante laicismo. Com tal perspectiva pretende-se negar, não só qualquer relevância política e cultural da fé cristã, mas até a própria possibilidade de uma ética natural. Se assim fosse, abrir-se-ia caminho a uma anarquia moral, que nada e nunca teria a ver com qualquer forma de legítimo pluralismo. A prepotência do mais forte sobre o fraco seria a consequência lógica de uma tal impostação. Aliás, a marginalização do Cristianismo não poderia ajudar ao projeto de uma sociedade futura e à concórdia entre os povos; seria, pelo contrário, uma ameaça para os próprios fundamentos espirituais e culturais da civilização"(2)
O Padre Fábio também erra em como ele defendeu em seu twitter a separação da Igreja e do estado. Ele faz esta defesa usando como carro chefe o "direito" dos homossexuais de contraírem uma união. Um dos argumentos usados pelo Padre é que "As igrejas não podem, por respeito ao direito de cidadania, privar as pessoas, que não optaram por uma pertença religiosa, de regularizarem suas necessidades civis. Se duas pessoas estabeleceram uma parceria, e querem proteger seus direitos, o Estado precisa dar o suporte legal."
Ora isso é evidentemente falacioso pois tal direito já é assegurado sem precisar que aja uma união civil pra isso. Além do mais ainda que fossemos pensar em considerar o argumento, nenhum fim justifica o meio utilizado. Como é possível usar a destruição do conceito familiar célula construtora da sociedade como meio para criar direitos para alguns? Destruiríamos toda a célula social simplesmente para assegurar o direito de uma minoria? Em fins, aqui a falácia é dupla. Ele em primeiro lugar cria uma preocupação falsa pois os direitos estariam protegidos por qualquer meio legal, sem recorrer a união estável ou ao matrimônio, e em segundo pq através dessa preocupação falsa, coloca em risco toda a estrutura social para assegurar o direito de alguns.
Assim se manifesta o Papa Emérito Bento XVI em um documento onde faz uma série de refutações ao projetos de união civis entre pessoas do mesmo sexo:
"Não é verdadeira a argumentação, segundo a qual, o reconhecimento legal das uniões homossexuais tornar-se-ia necessário para evitar que os conviventes homossexuais viessem a perder, pelo simples facto de conviverem, o efectivo reconhecimento dos direitos comuns que gozam enquanto pessoas e enquanto cidadãos. Na realidade, eles podem sempre recorrer – como todos os cidadãos e a partir da sua autonomia privada – ao direito comum para tutelar situações jurídicas de interesse recíproco. Constitui porém uma grave injustiça sacrificar o bem comum e o recto direito de família a pretexto de bens que podem e devem ser garantidos por vias não nocivas à generalidade do corpo social".(3)
Por fim o Padre diz: "O cristianismo nunca foi vivo e convincente como nos primeiros séculos, período em que vivia apartado do Estado"
O que é uma mentira descabida e que mostra um conhecimento histórico do Cristianismo pífio.
O Cristianismo e toda a humanidade nunca foram tão fortes e convincentes quanto no período da Cristandade em que a Igreja e o estado caminhavam como que numa só voz. Escrevia um Papa da época: O Poder espiritual julgava o poder temporal. O poder espiritual era julgado pelo poder supremo, isto é o Santo Padre, e o poder supremo era julgado somente por Deus.
O convencimento inicial do cristianismo nos primórdios estava no fato de que "o sangue dos mártires eram sementes de novos cristãos". Ou seja, o fator de atração do cristianismo era o martírio, muitos se convertiam ao verem os cristãos dando suas vidas de maneira heroica e sem renunciar a sua fé. Se o Padre parte deste princípio de atração do Cristianismo, então que volte logo os tempos do martírio, pois assim o poder de atração do cristianismo cresce. Ainda assim vale lembrar que alguns historiadores julgam que durante a perseguição de Dioclesiano o cristianismo quase findou, só não findou (Evidentemente por obra de Deus) pq após Dioclesiano veio Constantino e a perseguição cessou.


  1. http://w2.vatican.va/content/pius-xii/it/speeches/1958/documents/hf_p-xii_spe_19580323_marchigiani.html
  2. http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_20021124_politica_po.html
  3. http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_20030731_homosexual-unions_po.html



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